
A proposta do LAVA para uma transição tangível à energia sustentável.
O escritório internacional LAVA - Laboratory for Visionary Architecture (Laboratório de Arquitetura Visionária) nos convida, com um de seus mais recentes projetos, a refletir sobre o papel da energia no debate arquitetônico contemporâneo.
Texto originalmente publicado por
Lucca Leonardo Preziosa no Portal Architettura Sostenibile .it
https://www.architetturaecosostenibile.it/architettura/progetti/in-europa/studio-lava-transizione-energia-154/
​
A TRANSFORMAÇÃO DO CENTRO DE ARMAZENAMENTO DE GÁS
O projeto em questão é o vencedor do concurso lançado em 2016 por dois órgãos públicos, que têm como único acionista a cidade alemã de Heidelberg: IBA Heidelberg (feira internacional de construção) em colaboração com a Stadtwerke Heidelberg GmbH (empresa de fornecimento de eletricidade, gás e aquecimento) com o objetivo de expandir o parque energético no distrito de Pfaffengrund.

Vista completa da torre no parque. Imagem do site da IBA Heidelberg.
A principal intervenção diz respeito à conversão de uma antiga torre de armazenamento de gás em um equipamento de vanguarda. O edifício, um cilindro com 56 metros de altura, hospedará um depósito termal; a nova estrutura permitirá que as usinas de geração trabalhem de forma mais flexível e econômica, compensando a lacuna entre consumo e produção.
"O acúmulo de calor nos permite conectar melhor os setores de eletricidade e aquecimento - e, portanto, vai exatamente na direção do atual debate sobre energia", disse Michael Teigeler, diretor da Stadtwerke Heidelberg GmbH.
A LAVA decidiu dar uma imagem a essa mudança, transformando o volume atual em uma escultura dinâmica, que se destaca como um farol da nova cultura energética, completamente acessível ao público e com vistas da cidade. Os conceitos de transição energética, descentralização, networking, flexibilidade e adaptabilidade tornam-se arquitetura: o resultado é uma fachada com uma superfície dinâmica e em constante evolução, composta de luzes e sombras, e animada pelo vento. A nova fachada é como uma "pele" que envolve o edifício e é composta por várias camadas:
-
Uma membrana interna, capaz de assumir diferentes tons de azul, dependendo da luz;
-
Uma estrutura de metal com anéis elípticos, que corre ao longo do volume cilíndrico com movimento ascendente;
-
Entre os anéis, uma rede de cabos de aço forma a camada mais externa;
-
Finalmente, 11.000 flocos de aço muito finos estão presos à rede de cabos, com um sistema engenhoso que permite torcer até 45 °, permitindo que o edifício "respire".

Conceito do desenho da fachada e detalhe das escamas. Imagem de LAVA.net
O valor simbólico das escamas é ressaltado pelo diretor do LAVA, Tobias Walliser:
"Esse número de placas corresponde ao número de famílias abastecidas com energia da rede. É um significante visual do impacto que a nova tecnologia pode produzir".
​
A EXPLICAÇÃO SOBRE "A PELE QUE RESPIRA"
A fachada do projeto é o resultado da evolução de uma experimentação desenvolvida pela LAVA na transformação da identidade de edifícios ineficientes e energeticamente inadequados em regulamentos atuais através do simples gesto de aplicar um envelope externo com certas propriedades. O que inicialmente começou como uma proposta especulativa para remodelar a torre UTS em Sydney evoluiu para uma ideia arquitetônica mais ampla, como alternativa à demolição e reconstrução (com seus enormes gastos financeiros e ambientais).

Corte e detalhe da fachada. Imagem de LAVA.net
​

O escritório desenvolveu uma pele econômical e fácil de implementar que pode transformar a identidade, a sustentabilidade e o conforto interior de qualquer estrutura existente.
A pele é concebida como um "casulo translúcido" capaz de criar seu próprio microclima. O "casulo" é uma superfície composta leve e de alto desempenho. A tensão superficial permite que a membrana se espalhe livremente sobre uma estrutura de aço leve ao redor das paredes e dos elementos de cobertura, obtendo o máximo impacto visual com o mínimo esforço de material. Ela também pode gerar energia própria com células fotovoltaicas, pode coletar água da chuva, melhorar a distribuição da luz natural e usar a energia convectiva disponível para atingir os requisitos de ventilação natural do edifício.
O conceito continua a pesquisa da LAVA sobre uma arquitetura pública sustentável que combina materiais contemporâneos com as mais recentes tecnologias de fabricação digital, com o objetivo de obter "More with less", mais (arquitetura) com menos (material/energia/ tempo).
​
A MISSÃO EDUCATIVA DO PROJETO
Os visitantes experimentarão esse espaço como uma estrutura tridimensional: através de uma ponte, eles alcançarão um nível de entrada elíptico; dois elevadores e uma rampa irão acompanhá-los através de uma jornada formativa, dando vistas panorâmicas, grandes terraços, espaços para eventos e um restaurante; a experiência culmina na cobertura do prédio. Os visitantes aprenderão sobre os desafios da transição energética na cidade de Heidelberg, os detalhes técnicos da empresa de serviços públicos, as fontes de energia renovável produzidas no local e muito mais.
Fachada e corte da torre. Imagem de LAVA.net
​

Vista da plataforma de cobertura panorâmica. Imagem de Heidelberg IBA.

Plano do parque de esportes e energia. Imagem de https://www.sbp.de/en/
A atração arquitetônico criará um local de encontro público que incorpora a importância da produção de energia sustentável, conforme as palavras de Michael Teigeler: "o prédio será um novo ponto de referência em Heidelberg: como parte da cidade, queremos abri-lo para os cidadãos e fazer o mundo da energia de amanhã algo para viver e experimentar." O lema da IBA Heidelberg ecoou estas palavras: "O conhecimento cria uma cidade, e uma cidade cria conhecimento." O projeto LAVA (cuja construção começou em 2017) será concluída em 2019, e será o foco de um parque dedicado a esportes e energia onde, de acordo com o plano de energia 2020/2030, uma grande parte da energia será produzida a partir de fontes renováveis, num esforço conjunto entre instituições e cidadãos.
Finalmente, o indivíduo recupera sua relação com aquelas fontes tão essenciais para a vida contemporânea e se torna co-responsável.
​
UM PONTO DE VISTA NECESSÁRIO NA RELAÇÃO ENTRE ENERGIA E CIDADE
A produção de energia a partir de fontes renováveis ​​é, sem dúvida, um dos objetivos mais importantes da luta global contra as mudanças climáticas e para a afirmação de um futuro sustentável. Toda a humanidade se depara com um ponto de virada que revolucionará todos os aspectos da vida humana: é o alvorecer de uma nova cultura, baseada no respeito pelo planeta e seus recursos, e não mais em sua exploração incondicional. Assim como a revolução industrial e o capitalismo moldaram as cidades contemporâneas, definindo sua economia, instituições e estrutura, é natural imaginar como, da mesma forma, a revolução sustentável deve propor um novo modelo em que todos os aspectos sejam redefinidos, inclusive o arquitetônico.
Então, se falamos sobre a produção e distribuição de energia, que papel eles têm hoje no imaginário coletivo e que valor eles assumem para a vida humana? Sinteticamente, podemos responder que, embora a maioria de nossas atividades envolva o consumo de alguma forma de energia, poucos estão cientes de onde e como essa energia foi produzida e distribuída. Na maioria dos casos, as fontes estão a centenas de quilômetros do usuário final; as redes de distribuição estão escondidas do olho humano, no subsolo e depois nas paredes de nossos edifícios; plantas de produção por razões de segurança e impacto ambiental estão localizadas em áreas designadas, longe de centros populacionais.
Essa alienação é provavelmente uma das principais causas do desastre ambiental que estamos testemunhando, pois leva a um empoderamento do indivíduo em relação à coletividade. Não há dúvida de que na sociedade de amanhã este paradigma deve mudar e o projeto LAVA fornece uma virada interessante nessa direção.